Vivemos em uma sociedade na qual o poder representa conquistas. Quando pensamos em pessoas poderosas, o estereótipo que vem à nossa mente são de indivíduos que possuem grandes empresas, posses, influência e dominação perante situações, pessoas, processos e até mesmo o rumo que uma nação pode tomar. Em outras palavras, estamos condicionados a entender o conceito de poder como algo que implica o controle sobre determinadas situações, e que na grande maioria das vezes, traz mais benefícios para aquele que está com o domínio da situação. 

Esse mindset pode ser responsável por uma série de problemas em âmbitos mais individuais, como a ambição desenfreada, a avareza, a arrogância e a gana por conquistar os seus objetivos custe o que custar, até mesmo se o preço for a própria saúde ou a felicidade das pessoas ao seu redor. Da mesma forma, o conceito convencional de poder também pode explicar fenômenos sociais como guerras, conflitos entre povos e choques culturais. 

Andando em paralelo a todo esse contexto, aquilo que entendemos sobre o termo “poder” também pode ser aplicado em uma linha do tempo associada ao desenvolvimento da sociedade e das pessoas: quanto mais a humanidade foi se desenvolvendo, mais reconhecimento os poderosos receberam, e por consequência, tornou-se a grande ambição de vida de muitas pessoas a conquista do poder. Se somarmos esse pensamento com o crescimento da internet e das redes sociais, que tornou o acesso a informação algo palpável e simples, conseguimos entender também o crescimento no número de casos – e até mesmo o surgimento – de doenças que envolvem o psicológico, como a depressão, transtornos de ansiedade e outras doenças relacionadas, chamadas comumente de o “mal do século”.

Há algo que podemos começar a trabalhar dentro de nossos corações e lutar para que seja realmente aplicado no dia a dia:  a ressignificação do poder.

Ao transformarmos o conceito de poder, damos os primeiros e importantes passos para uma sociedade cada vez mais humana, consciente e igualitária. Embora seja um processo difícil, afinal, crescemos e vivemos em função de um conceito tradicional quase que pétreo, é necessário trabalharmos diariamente para que o conceito seja transformado, para que assim emerja uma nova sociedade mais justa e humanitária na qual nossos filhos e netos terão o prazer de viver.

A ressignificação do poder consiste na quebra do conceito tradicional do termo, que envolve dominação, por uma visão muito mais leve, pautada no cuidado com o outro; integração entre as diferenças; no servir ao outro e em estar em paz com as demais pessoas.  O mais poderoso e de maior reconhecimento é aquele que mais se interessa pelas pessoas, mais se preocupa com o coletivo… já imaginou? Teremos uma vida muito diferente. Em outras palavras, para uma nova sociedade, é necessário que entendamos o poder como algo que nos une e nos aproxima, criando um inconsciente de ajuda mútua e cooperação. 

Para exemplificar este novo conceito, podemos analisar rapidamente o Papa Francisco, a maior entidade da Igreja Católica. Independente de crença e religião, é possível reconhecer a mudança realizada no Vaticano. Até então, o posto era cercado de garbo e status, ostentando peças de ouro maciço e estruturas de acomodações surreais, entre outros pontos. Todo esse cenário era importante na fixação do poder que o Papa e Igreja Católica possuíam dentro do conceito – agora antigo – de poder. Entretanto, o Papa Francisco assumiu o papel com uma visão muito mais humana e próxima das pessoas, abdicando do luxo e da vida de celebridade. Com isso, podemos concluir que o novo Papa é revolucionário quando foi um dos primeiros grandes nomes mundiais a refutar o significado de “poder” e propor um outro sentido muito mais suave e belo. 

E todo esse novo contexto também pode ser aplicado nas pequenas situações de nosso cotidiano. Afinal, ao estabelecer a ressignificação do poder como algo importante no seu dia a dia, inconscientemente você estará mais propenso a tomar decisões mais comunitárias, sábias e que entreguem algo positivo na vida dos outros, formando assim um círculo virtuoso para sua família, amigos e colegas de trabalho. 

“Olho por olho, e o mundo acabará cego”, disse o genial Mahatma Gandhi. Frase esta que pode ser aplicada para a nossa presente reflexão, na qual pessoas que se apoiam no conceito antigo de poder buscam seu sucesso de maneira individual e destrutiva para os demais. Porém, estamos em face a um horizonte iluminado e cheio de esperança: ressignificando o poder, a sociedade entenderá de uma vez por todas que a verdadeira força é cheia de paz.